Coração
Que trabalha no peito de compositor
Hoje eu vim te falar de motor pra motor
Te contar o que se passa do peito pra fora
Sofrido coração
Brincadeira tem hora e agora é o limite
E acredite que o teu proceder me apavora
Já não tens mais idade pra tanta emoção
Coração
Que rege o batuque ao bater da batuta
Que reage no muque à censura, à conduta
Não espere, num truque, que alguém te
Socorra
Não corra, coração, modere tua garra
Não mate e não morra
Teu eletro é uma farra, parece gangorra
Lembra bem que a cigarra só dura um verão
Coração
És o réu condenado por tantas paixões
O inocente-culpado nas desilusões
Tens a fama de tolo, infiel, vagabundo
Bandido coração
Inibido traído teimoso e alado
O refrão repetido, o refém bem-tratado
Nos versos e rimas de tantas canções
Rebenta coração
Que alegrias tristezas te faz em pedaços
Que amanhã os garis varrem os teus estilhaços
Nos morumbas, maracas e nos mineirões
No fundo, coração
Tens que honrar a função de seu braço-direito
O xodó do patrão. O amigo do peito
O operário-padrão que fabrica emoções
Aguenta coração
E sustenta tua sina como um estandarte
Se amanhã tu te calas de angina ou de enfarte
Cantarão pra lembrar-te mais mil corações