Pastando as horas eternas
Do para-sempre dos livros
Um flete resfolegando
Estranha ainda estar vivo
Sabe dos outros cavalos
Que em poucos anos de lida
Se despediram do mundo
Perdendo a chama da vida
Mas ele malgrado o tempo
São mais de sessenta anos
E o vento que lhe castiga
Ainda segue haragano
Cada vez que abrem o livro
Seu Capitão o encilha
E o cavalo do Rodrigo
Corta de novo a coxilha
Por ser de feito de palavras
E não de couro e de crinas
Ganha formas renovadas
Quando o leitor imagina
Por isso não liga a monta
Nem a bota de garrão
Vem sempre gordo e delgado
À espera do capitão
Cavalga acima do Tempo
E o Vento traz pela mão
A história da nossa gente
Cavalga o flete alazão
Rodrigo vem bem montado
Traz uma espada e um violão
O tropel sangra quietude
É o pingo do capitão
Atado em frente da venda
Ressona léguas em pé
Um dia chegou de longe
Aos pagos de Santa Fé
Desde então alterna os tempos
De guerra em paz sem temor
Levando em cima do arreio
Ódio, coragem e amor
Não morre por não ter canes
Mas é tão vivo e tão forte
E em si tá todods os pingos
Que já toparam com a morte
Mas só o Capitão Rodrigo
É quem consegue montá-lo
Pois nele reside a alma
De quem vivei a cavalo
Por isso é que no silêncio
Desse meu décimo andar
Escuto um rumor de casco
Que faz a estante vibrar
Por certo é o conteúdo
Beligrante e ardente
De um livro já amarelado
Que se fez seu Continente
Cavalga acima do Tempo
E o Vento traz pela mão
A história da nossa gente
Cavalga o flete alazão
Rodrigo vem bem montado
Traz uma espada e um violão
O tropel sangra quietude
É o pingo do capitão